A Moreninha - Joaquim Manuel de Macedo

E depois do que se pareceu uma eternidade, sento-me diante dessa máquina de escrever moderna e encaro as teclas, sem nenhuma inspiração que me possa ser útil. Quem sabe, se esses aparelhos fossem menos sofisticados, eu me desse melhor com os dito cujos. E como diria aquela velha frase que todos conhecem: um dia frio, um bom lugar para ler um livro e - acrescento minhas próprias palavras aqui - uma xícara de café (que no meu caso, torne-se chocolate quente). 

Sem mais delongas, venho apresentar alguns resultados de minhas leituras mais recentes, e me resolvo por começar com um clássico literário de nossa pátria que - um dia - foi amada.

***

O livro me olhou com suas páginas amareladas. Eu o encarei e o segurei entre meus - nada - delicados dedos: nos apaixonamos.


SÍNTESE

"Um moço e uma moça, porém, andavam como se costuma dizer, solteiros; cem vezes dela se aproximava o sujeito, mas a bela, quando mais perto o via, saltava, corria, voava como um beija flor, como uma abelha ou, melhor, como uma doidinha. Eram eles D. Carolina e Augusto."



O centro deste universo de poucas páginas é a pequena Carolina, cujo temperamento forte não permite que ela se assemelhe a qualquer outra citada no romance. Tudo começa quando Filipe - irmão da nossa garota - faz um convite a seus inseparáveis companheiros do curso de Medicina, convidando-os a passar o feriado de Sant'Ana um uma belíssima ilha, na qual sua avó tem propriedades. Como não recusam meios de se divertir, aceitam de imediato, com exceção de um: Augusto. Mesmo depois de todas as promessas de que haverão muitas moças bonitas a sua espera, este diz não ser um romântico e é neste ponto que surge o que será a alavancada para o resto da trama: a aposta.

Eis que depois de se entenderem, todos partem para um fim de semana cheio de traquinagens e corações acelerados e então Augusto encontra os três principais objetos de derrota de sua aposta: D. Joana, de dezessete anos, madeixas escuras, olhos negros e pele pálida; D. Joaquinha - a que chamam Quinquina -, uma loura bem aperfeiçoada de olhos azuis e pele rosada, um ano mais nova que a primeira; e D. Carolina, de apenas 14 anos, uma graciosa moreninha. 

Cada vez mais imerso em seus pensamentos, Augusto se vê prestes a quebrar uma promessa muito importante de seu passado, tal promessa que foi feita para uma vida inteira; todos o julgam tratar o amor por uma coisa sem mais importância, porém nenhum presente sabe o motivo de seu comportamento.

Ao longo da história, descobrimos que o rapaz tem bons argumentos a seu favor, mas também que seu coração amolece diante da encrenqueira Moreninha - que, por sua vez, nutre sentimentos semelhantes para com o moço. 

Em meio a todas as aventuras, fofocas, segredos não tão secretos, águas mágicas e uma bondosa senhora capaz de ouvir suas lamurias do passado, nos comprometemos com o livro de uma maneira séria, sem podermos renunciar esse matrimônio até que a última página nos separe. Repleto de personagens magníficos e de personalidade própria - um bom exemplo é D. Joaninha - com um cenário estupendo e com referências a lendas e culturas locais, A Moreninha me vez ver com outros olhos o significado de um breve...

A indicação fica para os amantes de nossa literatura e para aqueles que gostam de um romance à moda antiga, sem tantos frufrus. A escrita da obra original é um tanto complicada devido a época, todavia nada que algumas consultas ao dicionário não possam resolver. Não me atrevo - não mais - a dizer que qualquer livro seja mais perfeito que o outro, entretanto de uma coisa tenho certeza: este é simplesmente único. 

"Lá, bem às escondidas, ela derramou uma lágrima. Doce lágrima... era de prazer."


Título original: A Moreninha
Gênero: Romance; literatura brasileira.
Idioma: Português
Ano de lançamento: 1844



Abaixo o filme, que é uma das muitas adaptações da obra:



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